02.  ╱ seja cinco ou zero.

CAMINHANDO PELAS AMPLAS RUAS DE DALLAS, onde os rostos sorridentes se desfaziam em expressões menos alegres ao avistá-la e a observavam com olhares inquisitivos, Nia percorria cada pedaço da avenida em busca de algo que lhe fosse familiar, algo que a fizesse sentir-se enraizada. Jittatad tinha consciência de que estava longe de casa e que possivelmente algo a seguiria através dos portais após atravessar o tempo e espaço.

A maleta que carregava consigo era um objeto que naturalmente atraía olhares, especialmente contrastando com suas vestes escuras em meio ao ambiente vibrante e colorido. Com os cabelos curtos acariciados pela suave brisa do vento, ela parou diante de uma loja de televisões e observou uma propaganda colorida passar ― algo que, para a época, certamente era uma novidade ― retratando um suco de morango e uma família radiante. Ela sorriu brevemente, saboreando o gosto de seu chiclete, e então fechou os olhos serenamente, colocando a mão sobre o vidro, mergulhando em recordações de seus afetos mais queridos.

― Mãe... ― murmurou, dando um sorriso cabisbaixo ao abrir lentamente os olhos.

Sentindo uma ventania rápida ao seu redor, como um furacão que havia se desfeito assim que iniciou, suas mãos formigaram, criando colapsos de fragmentos de portais de cores azuladas. Pelo reflexo do vidro, era como se tivessem escutado os seus pensamentos: Hazel ― quem tanto procurava ― estava ao outro lado da rua. Ela sorriu alegremente ao virar-se e vê-lo ali, notando ao seu lado um garoto de estatura média, uniforme e cabelos pretos, de semblante atordoado e certamente irritado.

Caminhando até eles, o portal de coloração arroxeada se abriu em sua frente, adentrando-o com um mero sorriso em seu rosto. Ao sair do outro lado, apercebeu-se que ambos haviam se assustado, principalmente o garoto que uniu as sobrancelhas, intrigado.

Descendo seu olhar até ele, sendo alvo de seu olhar agressivo e confuso, ignorou-o, voltando a atenção para Hazel.

― Nia, o que está fazendo aqui? Seus pais também estão...? ― as palavras de Hazel não tiveram cautela, mas a jovem mulher se manteve neutra, apenas concordando com o que perguntava. ― Eu sinto muito.

― Meus pais gostariam que eu o encontrasse, parece que viemos parar no mesmo lugar, mas por que tão distante? ― sorriu descontraída. Criava referências em relação ao ano em que estavam. Fitando o garoto que estava inquieto, trocou olhares com ambos. ― Algum problema, baixinho?

O garoto de estatura mediana coçou a garganta, chamando sua atenção. Nia, com um semblante sério e agressivo, o fitou, arqueando a sobrancelha.

― Algum problema é a sua pergunta? Como conseguiu os meus poderes? ― apontava para ela como se estivesse certamente ofendido por serem similares. Nia riu sem acreditar e empurrou a testa do garoto de uniforme. ― Se tocar em mim novamente, eu-

― Onde estamos? ― indagou Nia, cortando-o. Ela olhou ao redor, mordendo os lábios inquietos.

Direcionando seu olhar para as mãos de Hazel, que segurava firmemente uma maleta da comissão, ela ergueu sua atenção até a fachada da loja em frente, a loja Cecilia. Respirou fundo, e voltou a encarar os carros Impala e Opala de cor turquesa e várias outras vitrines de moda antiga. Ela sabia em que ano estava do tempo, mas não o local.

Voltando sua atenção para ambos, o garoto também examinava a área confusamente, mas principalmente incomodado com ela, como mostrava ao esfregar sua nuca com a mão.

― Estamos em Dallas, 10 dias antes do fim do mundo, se assim posso dizer ― respondeu Hazel, percebendo que tanto Nia quanto o garoto haviam franzido a testa. ― Ah! Ocorreu em 25 de outubro de 1963, se é o que querem saber.

― Bom, não é isso exatamente o que eu queria saber, mas em que momento da história o mundo acabou em 1963? ― indagou Nia, indignada. ― Sai de um fim do mundo para cair em outro?

― Acreditando ou não, o mundo acaba daqui 10 dias.

O garoto fez um leve barulho de estresse, arrancando uma risada nasalada de Nia que mastigou o chiclete, girando lentamente seu corpo, indignada com tudo o que ouvia. Já não bastava ter acabado de escapar de um fim do mundo, agora tinha sido acompanhada por ele.

― Olha, Hazel, não é querendo concordar com essa estranha, assim como não sou nenhum especialista em história, mas não me lembro de haver um holocausto nuclear ― rebateu o garoto de uniforme com certo nervosismo em seu tom enquanto fitava sua guarda.

― Vocês dois realmente não entendem nada sobre viagem no tempo e apocalipse ― disse Hazel, soltando uma risada seca e amarga. ― Acham que estou brincando com a situação? Vocês também não deveriam estar aqui!

― Mas, estamos há oito dias da morte de John Kennedy ― ressaltou Nia, como se houvesse alguma importância no assunto, mas para nenhum dos dois aquilo fazia diferença. ― Okay, ninguém liga...

― E a minha família? ― questionou o mais novo, ignorando as palavras da Tailandesa.

O garoto observou Nia, que arqueou a sobrancelha de modo rude, colocando a maleta no chão.

― Mortos, como todo mundo ― respondeu Hazel. ― Como já disse, estamos a dez dias antes. O suficiente para restaurar a linha do tempo e salvá-los.

Nia os olhou sem saber como fazer parte daquele assunto, ela apenas fitou o garoto inteiramente parando seu olhar no símbolo no peito do uniforme.

Um riso desacreditado escapou dela.

― Por acaso eu posso perguntar qual número da família você é? ― Nia indagou, sendo encarada de forma mal humorada pelo garoto. ― O quê? Você surgiu do nada.

― Você também e nem por isso perguntei quem era você! ― retrucou o mesmo. Fazendo movimentos com as mãos, Nia encarou o braço do garoto e o segurou fortemente. ― Me larga ou você vai ver o que posso fazer além de abrir portais no espaço-tempo!

Largando-o abruptamente, ele notou o modo como o cenho dela se franziu, não de confusão como esperava, ela parecia assustada como se estivesse vendo um fantasma.

― Número Cinco? ― murmurou dando um passo atrás. ― Como... como você voltou?

― Ótimo, uma fã ― suspirou ele com sarcasmo, dirigindo-se ao banco onde Hazel estava sentado. Encarando-o, aproximou-se. ― Por onde nós começamos?

― Nós? A responsabilidade é toda sua. Você e seus irmãos são a única família que Nia tem agora, e são vocês que podem consertar tudo o que causaram ― explicou Hazel. Cinco trocou olhares com Nia, que o fitou ainda em pé. ― Só estou aqui para cumprir uma promessa que fiz à Agnes.

― Antes de mais nada, gostaria de esclarecer que não fui eu quem causou tudo isso ― comentou Nia, dando de ombros.

Com os braços cruzados, ela olhou ao redor, sua jaqueta preta escondendo um coldre de facas. Retirando a jaqueta e colocando-a sobre o encosto do banco de madeira, abriu a maleta no chão. Colocando seus shurikens no coturno, retirou um leque azul com facas douradas em seus suportes e o fechou, prendendo-o no coldre em sua perna, atraindo olhares não só dos transeuntes, mas também de Cinco, que revirou os olhos.

Olhando para o ombro de Nia, Cinco viu a longa maleta ser trancada e, por breves segundos em que seus cabelos curtos se moveram, avistou a tatuagem da Umbrella Academy nela.

Antes de falar, ele voltou sua atenção para a história de Hazel e Agnes.

― ...Mas passamos ótimos 20 anos juntos. Acho que não era para ser para sempre ― concluiu Hazel.

Agachada no chão, Nia Jittatad encarou o reflexo na vitrine, observando um mini-ônibus estacionar na parada com atenção. A brisa suave desarrumou seus cabelos curtos, fazendo-os dançar diante de seu rosto. Sua nuca formigou e um zumbido começou a ecoar em seus ouvidos, como se um som agudo e intenso estivesse se tornando ensurdecedor.

― Eu sinto muito, Hazel ― murmurou Cinco, com a cabeça baixa, dirigindo-se ao mais velho. ― E a comissão?

― Cinco, tem algo errado ― murmurou Nia, erguendo-se e chamando a atenção do garoto.

― Eu cortei relações com aqueles idiotas, lembra? Não lhes devo nada ― comentou Hazel descontraidamente.

Nia e Cinco olharam na direção em que o ônibus estava parado. Nia pegou a maleta no chão, deu a volta no banco e parou ao lado de Cinco, que franziu a testa ao ver três homens de aparência nada amigável se aproximando, suas armas escondidas nas costas.

― Quem são esses caras? ― questionou Cinco.

Nia deu um passo à frente, impedindo-o de avançar, cerrando os punhos.

― Merda ― murmurou Hazel ao ver os três se aproximando. ― Corram!

Hazel entregou a maleta a Cinco e o empurrou na direção onde Nia estava agachada, ilesa. Os tiros começaram a ecoar, e ambos se teleportaram rapidamente para fora da linha de fogo. Hazel foi atingido por vários tiros, com as mãos nos ouvidos, enquanto Jittatad, agachada perto de um carro turquesa, olhava para Cinco, que observava a mala perfurada.

― Você os conhece? ― Cinco perguntou de forma rude, sem olhar para ela enquanto respirava fundo.

― Se eu conhecesse caras como esses, eles já estariam mortos ― murmurou, olhando para os lados. Cinco arqueou uma sobrancelha, e ela riu ao ver sua expressão. ― Queria ver sua cara se eu dissesse isso.

Com a maleta de Hazel fumegando em suas mãos, Nia e Cinco observaram o objeto perfurado pelos tiros, com as cores azuis brilhando pelos buracos.

― Merda! ― praguejou Cinco.

― Eles nos viram ― Nia o puxou pela gola. ― Se abaixa!

Nia abriu um portal de maneira tão rápida, que Cinco nem viu quando ele surgiu, enquanto os tiros eram disparados em direção ao carro que se escondiam. Era claro que os três sujeitos altos, com semblante carregado de fúria, estavam atirando para matar. Não surpreendia; todos queriam eliminar alguém ligado à Umbrella Academy.

Quanto mais heróico você é, mais vilões surgem lhe odiando.

O portal abriu-se sobre uma loja, ambos estavam deitados no telhado, recuperando o fôlego. Nia soltou a gola da blusa de Cinco, fechou os olhos e suspirou, sentindo o estômago revirar enquanto os tiros ecoavam contra a vitrine. Porém, logo cessaram, substituídos pelo som de passos sobre vidro quebrado.

― Eu conheço um lugar que podemos ir ― murmurou Nia, levantando-se e ignorando Cinco, que tentava fazer o mesmo. Mas, ela deu meia volta, virando-se para ele. ― Na verdade, acho que, nessa época, a casa dos meus avós não existia.

― Vamos! ― disse Cinco, sem rodeios.

Teletransportando-se, Nia observou os fragmentos azulados do portal dele, e assim que ele atravessou, desapareceu. Ela fez o mesmo rapidamente, mas sua coloração se equilibrou entre azul e roxo, sorrindo enquanto atravessava. Ao sair em um beco, olhou ao redor, percebendo ser o mesmo lugar de onde tinha vindo algumas horas antes.

― Já estive aqui antes ― sussurrou, fazendo Cinco olhar para ela. De ombros encolhidos, Nia estava ofegante. ― Você não entenderia.

― Pode acreditar, eu entendo muito bem ― murmurou Cinco, ajeitando a gravata e olhando para trás enquanto o carro da polícia passava pela avenida. Mas, seu olhar recaiu sobre Nia, que ajeitava os cabelos. ― Aliás, quem é você?

Nia caminhou enquanto observava uma janela; Cinco seguiu seu olhar, vendo uma silhueta fechar a cortina e se esconder atrás das paredes. Mais acima, notaram equipamentos com antenas e câmeras fotográficas, como uma forma antiga de observar alguém. Passando a mão no pescoço, caminharam lado a lado, a maleta nas mãos de Nia, que olhava fixamente para o brasão no uniforme do garoto.

Ao se aproximarem da porta cinza do prédio, viram a placa do local. Nia olhou para Cinco com apreensão, sem bater na porta, e eles se teletransportaram para dentro do edifício, subindo as escadas.

Diante de uma porta de madeira com o nome Mortimer Gussman. D.D.S. marcado no vidro, eles espiaram pela persiana entreaberta. Com Cinco batendo na porta de vidro, Nia olhou ao redor, buscando algo suspeito, enquanto a porta ao lado se abria, revelando um homem de aparência simples, verificando os arredores desconfiado. Nia notou suas roupas comuns, xadrezadas, e os cabelos finos sobre a testa, cobrindo um dos olhos de cor esverdeada.

― O que vocês querem? ― perguntou ele desconfiado, sem olhá-los nos olhos.

― Oi, estamos vendendo enciclopédias para nosso grupo de jovens ― disse Cinco sarcasticamente, com as mãos nos bolsos. Nia soltou uma risada ao mascar um novo chiclete estourando uma bolha. ― Estávamos curiosos se...

Sem deixar Cinco terminar, o homem fechou a porta na cara deles, e ambos suspiraram, sabendo que era provável que isso acontecesse.

Cruzando a porta juntos, eles se teletransportaram, observando a casa cheia de bugigangas na cozinha e por outros cômodos, com paredes verdes que fizeram Nia suspirar profundamente. Mas ao observar mais de perto, viram que o homem gritou imediatamente ao vê-los, procurando por um objeto pontiagudo nas gavetas e apontando para eles.

Nia riu suavemente, e Cinco o encarou com um olhar enigmático.

― Como fizeram isso? ― perguntou ele, apontando o objeto na direção de Jittatad e depois para Hargreeves. ― O que diabos vocês são? Aliens?

― Não temos tempo para explicar ― disse Nia que deu de ombros, colocando a maleta no chão.

― Vocês são do Pentágono? ― questionou encarando a Tailandesa.

― Tenho certeza de que não ― ironizou Cinco, arrancando um riso de Nia.

― CIA? FBI? KGB?

Nia, com sofisticação, se aproximou do homem assustado, cruzando os braços e sorrindo de lado enquanto Cinco servia café. Pegando o chiclete da boca com os dedos, ela o jogou no lixo ainda sentindo o gosto de morango.

― Tenho cara de algum deles? ― murmurou ela, vendo o objeto pontiagudo ser apontado para si. Ele tremulava.  ― Tenho quase a certeza de que a KGB não iria querer alguém como eu.

― Eles podem muito bem ter japoneses para as estratégias de ataque ao nosso país ― murmurou ele, assustado. Nia deu um soco leve no ombro dele, enquanto Cinco se dirigia para o outro cômodo.

― Eu sou tailandesa, e não, não é a mesma coisa ― sacudiu as mãos com firmeza, percebendo ter sido um pouco brusca ao socar o braço dele. O cômodo estava repleto de artefatos estranhos, câmeras e recortes de jornais espalhados. ― De quem você realmente está fugindo? Não me diga que são ladrões, você parece mais o perseguidor ― ela questionou, observando atentamente os objetos enquanto Cinco fazia o mesmo.

― Você já ouviu falar da Área 51? Roswell? ― Cinco perguntou, seus olhos buscando respostas nos papéis sobre a mesa, enquanto Nia lia em voz baixa.

O homem soltou uma risada extravagante, jogando um objeto pontiagudo no chão, chamando a atenção dela como se ele fosse o retrato da loucura encarnada. Seus passos ressoavam pelo chão enquanto ela se jogava na poltrona, retirando um Shuriken de sua bota.

― Caramba! ― ele exclamou, enquanto ela e Cinco trocavam olhares intrigados. ― Sempre soube que não estávamos sozinhos. OVNIs, círculos nas plantações...

― Bem, a verdade está lá fora ― Cinco comentou com um toque de sarcasmo.

― Não dê esperanças, Cinco ― ela disse, girando o Shuriken em seu dedo enquanto os dois se afastavam cautelosamente.

― A verdade está bem aqui na nossa frente ― o homem continuou, se aproximando dela, o que a fez se levantar abruptamente. Cinco se juntou à Nia, e os dois se afastaram, mantendo uma distância segura. ― Me conte, por que sempre uma sonda anal?

― Chegue mais perto e eu derreto seu cérebro ― eles disseram simultaneamente ao homem. Ela olhou para Cinco incrédula, enquanto ele franzia a testa, então, ambos se afastaram, coçando a garganta.

― Precisam de espaço. Sim ― ele disse, afastando-se para dar espaço, enquanto ela assentiu, voltando a brincar com o Shuriken.

― Aquelas engenhocas no telhado, você as construiu, certo? ― Cinco perguntou, percorrendo o cômodo.

― Sim, fui eu ― ele respondeu, fazendo gestos com as mãos. ― Estou monitorando anomalias na atmosfera. Estou esperando.

― Esperando que um extraterrestre abduza alguém? Isso não acontece ― Nia suspirou, pegando alguns papéis que estavam alfinetados na parede. ― As únicas anomalias somos nós dois.

Ela apontou para Cinco, fazendo-o engolir em seco enquanto os dois trocavam olhares tensos, ou algo parecido com ódio.

― Esperando pelo quê? ― Cinco perguntou, agora interessado.

― Por vocês. Por todos vocês ― ele respondeu, apontando para ambos e depois para um quadro de fotos em preto e branco. ― Tudo começou em 1960, o ano em que a Silvertone Ômega foi lançada. Eu estava no meio de uma venda quando algo muito estranho aconteceu...

Eles ouviram atentamente enquanto ela contava sua história, examinando as fotos.

― Minha família está viva ― Cinco murmurou, tocando uma das fotos, olhando para Nia, que observava o Shuriken em suas mãos. ― Merda! Acho que os prendi aqui.

Cinco parecia desapontado e incrédulo, e ela podia entendê-lo, mesmo que estivesse tão confusa quanto ele. Ele tocou seu ombro, trazendo-a de volta à realidade. Eles precisavam retornar às suas posições. Nia se levantou e guardou o Shuriken, e juntos caminharam até ele, pronto para continuar a conversa.

― Agora me escute! ― Cinco se teletransportou, com Nia se aproximando enquanto ele se apoiava sobre sua cômoda.

― Elliott. Meu nome é Elliott ― a luz da mesa acertou a testa de Elliott, fazendo Nia revirar os olhos e suspirar fundo.

― Tanto faz, está bem? ― disse Cinco. ― Tenho dez dias para encontrá-los e salvar o mundo. Agora, preciso de sua ajuda para isso.

― Precisa? ― Nia perguntou, desacreditada, recebendo um olhar repreensível do garoto. ― Faça o que quiser, depois não diga que eu não te avisei quando tudo começar a dar errado.

― Precisa... da minha... ― Elliott apontou para si mesmo, ainda assustado e surpreso pelo que Cinco havia dito. ― Quer saber? Sempre achei que essa foto parecesse a chegada número quatro.

Elliott estendeu a mão em direção à gaveta, e Nia o ameaçou com uma de suas facas, cautelosa em relação às ações do desconhecido. Cinco fez um gesto com a cabeça para que Elliott continuasse. Ele retirou um recorte de jornal, abriu-o e mostrou para eles. Nia arqueou a sobrancelha ao ver a descrição e riu incrédula, olhando para seu próprio coldre de facas.

Naquele momento, percebeu que sua jaqueta tinha ficado no banco onde Hazel e Cinco estavam sentados, revirou os olhos e lançou uma shuriken na parede.

― Diego ― disse Cinco, pegando o jornal recortado e fitando-o com admiração, como se tivesse resolvido um enigma.

― Quantas versões de vocês que parecem comigo existem? ― questionou Nia, atraindo a atenção de ambos. Entretanto, Cinco manteve o olhar confuso. ― Não me olhe assim.

― E como eu deveria te olhar? ― ripostou Cinco, irritado. ― Eu nem sei o que você está fazendo aqui!

― Você deveria agradecer, pirralho! Se não fosse por mim, você nem existiria.

Elliott os observava, e com um pigarro, atraiu o olhar deles.

― Então, é útil? ― apontou Elliott para o recorte do jornal.

― Você não faz ideia ― Cinco dobrou o jornal e entregou para Nia, que guardou em seu bolso.

Nia caminhou até sua maleta, pegou-a e a colocou sobre o sofá, fitando Elliott, que engoliu em seco ao receber o aviso. Retirando seu coldre de facas cromadas, colocou-o sobre uma das cadeiras, pegou algumas das que estavam no suporte e as colocou no cinto de sua calça, escondendo com a regata que utilizava.

Virando-se para Cinco, que andava de um lado para o outro, ele a olhou de cima a baixo, verificando os equipamentos e as vestes adequadas para esconder objetos.

― Legal às facas ― disse, apontando para o coldre de perna onde estavam suas facas cromadas, e Nia sorriu.

Vendo Cinco se teletransportar sem avisos, ela o seguiu através dos fragmentos dos portais que pairavam no ar. Olhando ao redor, estava na avenida de Dallas, andando ao lado dele, trocando olhares desconfiados.

Nia olhou para seus guardas.

― Irá me responder? ― perguntou, vendo-o espreitar com suas palavras. ― Como você voltou?

― Não, essa não é a pergunta que quer fazer ― parou no meio da calçada e apontou para Jittatad, que abaixou o seu dedo. ― Preciso de respostas sobre você desde que chegou e, talvez por sua culpa Hazel foi morto, por isso, responda a minha primeira pergunta... quem é você?

― Um garoto como você, Cinco, não me assusta ― ela disse, sorrindo sarcasticamente e cruzando os braços enquanto ele cerrava os punhos. ― Mas, eu me chamo Nia Jittatad. O mundo acabou em 2019 e perdi a única família que tinha, por isso abri um portal que me trouxesse até Hazel. Então o encontrei aqui, com você... e sei que o que mais te interessa são meus poderes, mas sempre tive eles, sempre tive o poderes de vocês e os meus.

― Isso não explica por que você tem a tatuagem da Umbrella no seu ombro ― ele insistiu, cruzando os braços e inclinando-se na direção de Jittatad, que concordou. ― Eu tenho seis irmãos, e você não é nenhum deles!

― Reginald Hargreeves não me comprou como fez com vocês, mas ele me descobriu, e então me visitou antes mesmo de eu nascer e me vigiou até que meus pais entendessem tudo ― explicou calmamente, recordando a história que cresceu ouvindo. ― Nascemos no mesmo dia, mas eu vim cinco horas antes de todos vocês. Fui o zero de vocês. Sou a que possui tudo depois do meu próprio número, mas faço parte de vocês, não da Umbrella, apesar de Reginal ter me dado isso ― ela olhou a tatuagem no ombro. ― Sou o Zero, e vocês são o que vem depois de mim.

― Você ainda não é confiável ― Cinco apontou para Nia, que retirou um recorte de jornal do bolso.

― Eu também não confio em um garoto de sei lá quantos anos de idade que ficou preso no tempo e depois retornou ― ajeitou os cabelos de Cinco com um sorriso forçado. Entregando o recorte para ele, então abriu um portal. ― Vamos atrás do Número Dois.

― Do que devo te chamar, impostora? ― ele a ultrapassou, cruzando os braços, fazendo com que Jittatad o fitasse. ― Temos que salvar o mundo, e se você me impedir disso, eu a mato com minhas próprias mãos. Por isso, preciso de um nome para te chamar... prefere Nia, talvez?

― Não ― proferiu secamente, dirigindo-se ao portal.

Ajeitando seus curtos cabelos e deixando sua tatuagem da Umbrella Academy à mostra no ombro, juntamente com o número marcado em seu pulso, ela olhou na direção de Número Cinco, que a observava de cima a baixo.

― Me chame de Número Zero.

⋯ ⁺ ZERO: UMBRELLA ACADEMY
✿⠀· ☂️⠀. carter dardenne,   2020

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